Semanalmente lançamos entrevistas com artistas indicados ao PIPA 2014, nas quais os indicados respondem a uma pergunta de um membro do Comitê de Indicação e relatam curiosidades de suas vidas e obras.
Esta semana foi a vez de conversarmos com os artistas Maurício Ianês, Sofia Borges e Thiago Martins de Melo.
Assista às entrevistas exclusivas:
Maurício Ianês
Ações e performances que buscam questionar a relação entre espectador e artista, tirando o espectador do papel de observador passivo e transformando-o em parte importante da criação da obra são parte importante do trabalho de Ianês.
Neste vídeo o artista responde à pergunta do colecionador Fersen Lambranho “Como seu trabalho foi influenciado pelas manifestações de rua de 2013?” e conta que apartir de 2008 começa a se preocupar com sua relação com o público, buscando um contato “onde eu abrisse o espaço como uma clareira para que o público construísse junto comigo o trabalho”.
Ianês relata a performance que fez para a Bienal de São Paulo, em que morou no pavilhão por quinze dias, em silêncio, vivendo basicamente de doações de visitantes. “Apesar de ter sido antes das manifestações, já havia essa preocupação e agora mais do que nunca as performances estão voltadas para essa construção social através da relação do artista com o público”, desenvolve ele.
Assista ao vídeo:
Para saber mais sobre Maurício Ianês, suas obras e exposições, acesse a página do artista.
Sofia Borges
Nesta entrevista a artista responde à pergunta proposta por Beatriz Milhazes: “Como você desenvolve seu processo de trabalho? Você tenta um diálogo ou uma discussão?”
Borges, cujo suporte predominante é a fotografia, diz que seu processo criativo parte mais de uma pergunta do que de um diálogo ou discussão: “Eu gosto muito dessa ideia de problema onde não importa a variável, existe uma equação, uma frase, uma relação entre elementos.”
A artista, que vive e trabalha entre São Paulo e Paris, fala também de sua pesquisa recente sobre lugares onde já existem estruturas representativas. “Se eu tivesse que resumir em uma pergunta essa icógnita seria ‘O que é uma imagem, uma fotografia?'”
Assista ao vídeo:
Para saber mais sobre Sofia Borges, suas obras e exposições, acesse a página da artista.
Thiago Martins de Melo
“Eu busco pesquisar muito (…) até eu realmente me aceitar e fazer um trabalho”, diz o artista que é finalista do PIPA 2014, em resposta à pergunta de Alejandra Muñoz: “Como você escolhe as temáticas predominantes no seu trabalho?”
Na entrevista, o maranhense cujo suporte mais utilizado é a pintura conta sobre uma série de trabalhos tridimensionais que começa a apresentar na mostra do PIPA que abre no MAM-Rio em 6 de setembro e também na Bienal de São Paulo. “Eu estou querendo abolir um pouco as separações entre pintura e escultura (…) me interessa muito a pintura como carne dentro do tridimensional, como uma pele…”
Thiago ainda destaca o fato de o Brasil ser um lugar onde não se pode impor muitas regras em quase tudo: “a gente regurgita as coisas, engole, e cria outra coisa em cima”.
Assista ao vídeo:
Para saber mais sobre Thiago Martins de Melo, sua carreira, exposições e ver imagens de suas obras, acesse a página do artista.
Para assistir a outros vídeos de artistas indicados esse ano e nas edições anteriores, além de vídeos especiais, acesse a página de vídeos.
Vídeos PIPA
Desde a primeira edição do PIPA, em 2010, contratamos a Matrioska Filmes para produzir vídeo-entrevistas com os artistas indicados ao Prêmio. Chegando a sua 5ª edição em 2014, o Prêmio segue acreditando na importância dos vídeos que anualmente são produzidos pela produtora, com exclusividade para o PIPA.
Como aponta Luiz Camillo Osorio, curador do MAM-Rio e conselheiro do Prêmio, no texto Desejo de arquivos: “Se a premiação visa o reconhecimento e a distinção, a construção de uma memória contemporânea visava a análise ampliada do circuito.”
Leia o texto de Luiz Camillo Osorio, onde ele destaca a importância dos vídeos do PIPA:
(Originalmente publicado em 7 de junho de 2013.)
Desejo de arquivos
Você vê o documentário que Scorsese fez sobre Dylan e fica pasmo ao ver como os americanos documentaram cada entrevista dada pelo então promissor cantor folk. Podemos parar aqui e dizer que Dylan e os Estados Unidos se merecem mutuamente. Nada na História do Brasil fez com que pudéssemos ter uma atitude de altas expectativas a nosso próprio respeito que nos levasse a registrar o que surge. – Caetano Veloso
Lendo esta passagem escrita em sua coluna do Jornal O Globo em 7 de Outubro passado não tive como não concordar integralmente com o Caetano. De fato, há por aqui uma negligência superlativa em relação à memória, ao arquivo, ao registro dos acontecimentos. Nossa paixão pelo efêmero, nossa contínua promessa de futuro, acaba por desconsiderar o registro dos fatos e a necessidade de dar-lhes alguma posteridade.
Um exemplo recente abrindo o caminho da discussão. A curadora portuguesa Marta Mestre, curadora assistente do MAM-Rio, quis fazer uma exposição com a história do Espaço Sergio Porto no Rio. Entre o final dos anos 1980 e meados da década seguinte, aquela pequena galeria no Humaitá lançou toda uma geração de artistas que hoje está já legitimada internacionalmente. Não obstante a relevância daquele espaço da Prefeitura, não havia qualquer arquivo ou registro dos fatos disponível. A solução foi recorrer ao que restava nas mãos dos artistas para levar à frente o projeto. O descaso pelo acesso público à memória é uma patologia perigosa que fortalece privilégios e reforça assimetrias.
Por outro lado, com o desenvolvimento recente de novas tecnologias e a facilidade de se fotografar ou filmar tudo e qualquer acontecimento com um pequeno celular, há uma verdadeira fome de reprodução. Antes da experiência, do vínculo existencial, do afeto, já vem o registro. Inverteu-se a equação, mas se não houver como selecionar e guardar o registro, o problema segue o mesmo.
Há que se combinar matéria e memória e construir arquivos que tragam uma aposta no registro diferenciado do presente. Felizmente, algumas iniciativas começam a aparecer no Brasil – antes tarde do que nunca – no sentido de criar, resgatar e trabalhar com arquivos. Vai nesta direção a aposta do Prêmio IP Capital Partners de Arte – PIPA – ao realizar pequenas entrevistas via Skype com todos os artistas indicados ao prêmio. Estas entrevistas procuram ouvi-los brevemente sobre sua obra, seu processo criativo, seu ambiente de trabalho, suas inquietações e demandas. Estes vídeos estão disponíveis no site do PIPA e junto à página de cada artista indicado. A idéia é que possam ser atualizados a partir de novas indicações dos artistas ao prêmio, mas sempre tendo como prioridade os indicados pela primeira vez.
Olhando com a vista fixada no presente, podem parecer mero registro ocasional e superficial. Todavia, nosso esforço é o de ir além do olhar mais concentrado e focado do mercado de arte que repete nomes para inflacionar valores. O registro aberto e descentralizado amplia o ângulo de atenção registrando a diversidade da cena local. Entre o crivo fechado do mercado e a indiferença do não-critério, as entrevistas e as páginas dos artistas indicados ao PIPA são um retrato panorâmico da arte contemporânea brasileira.
Nestes três anos já foram feitas 195 entrevistas com 159 artistas diferentes, morando em cidades tão distintas como Riachão do Jacuípe na Bahia, em Belém, em Piraquara no Paraná, em Berlim, em Estocolmo, e claro, no Rio, em São Paulo e nas principais capitais. As várias micro-cenas que compõem a cena contemporânea brasileira podem ser vistas e avaliadas, revelando diferenças e convergências. Em que medida todos estes artistas são contemporâneos? Que Brasil – no plural – fala através de suas inquietações criativas? Como eles dividem horizontes poéticos comuns?
Quando o PIPA procurou a produtora Matrioska para realizar estes vídeos, tinha como meta montar um pequeno banco de dados sobre a arte brasileira contemporânea. Se a premiação visa o reconhecimento e a distinção, a construção de uma memória contemporânea visava a análise ampliada do circuito. Naturalmente, são os artistas que moram na “periferia” os mais interessados na realização dos vídeos. Se não têm computador com câmera dão seu jeito para terem a possibilidade de se apresentar para o circuito maior.
Temos certeza que a continuidade destes registros e a combinação deles com a renovação das páginas dos artistas – que tem que ser feita em parceria com os artistas e suas respectivas galerias – potencializarão a relevância deste banco de dados. Um número crescente de interessados, de pesquisadores a colecionadores, já começam a usar o site do PIPA para o benefício de todos. Já é comum recebermos e-mails de pesquisadores, nacionais e internacionais (ele é bilíngüe, português/inglês), que usaram o site e que nos agradecem por termos disponibilizado tudo na rede.
Vai ser com a construção de arquivos e de uma memória crítica da arte brasileira que o nosso circuito irá conseguir responder, sem deixar-se atropelar, pela euforia crescente do mercado internacional, cujos interesses, seus mais legítimos interesses, são míopes e não prezam o tempo intensivo necessário para a construção de poéticas com a densidade que lhes é própria. Arquivos, todos eles, reclamam filtros, critérios, conflitos e, acima de tudo, temporalidades heterogêneas, não sincrônicas e não imediatistas. O PIPA tenta fazer a sua parte. / Luiz Camillo Osorio – Curador do MAM-Rio e Conselheiro do PIPA.